No dinâmico e complexo mundo empresarial, a estratégia ocupa um lugar de destaque. As organizações são forçadas a adaptar-se e a inovar constantemente, buscando formas criativas de se manterem competitivas. Uma dessas estratégias, por vezes mal compreendida, é a chamada Estratégia de Colheita. O nome pode evocar imagens de tranquilidade agrícola, mas esta abordagem está longe de ser passiva.
Neste artigo:
- O que é a Estratégia de Colheita
- Quando é que a Estratégia de Colheita é Apropriada
- Exemplos Reais
- Alternativas à Estratégia de Colheita
- Conclusão
Ao contrário das estratégias mais convencionais de crescimento e expansão, a Estratégia de Colheita segue um caminho diferente, focado na maximização do cash flow e das receitas a curto prazo. Muitas vezes, é uma decisão tomada em circunstâncias complexas e desafiadoras, quando a confiança na sustentabilidade a longo prazo da empresa é baixa. Ainda assim, quando bem executada, pode provar ser uma tática eficaz para rentabilizar os ativos de uma organização.
O que é a Estratégia de Colheita?
A Estratégia de Colheita é uma decisão estratégica que implica permitir deliberadamente que a quota de mercado de uma empresa diminua. É uma abordagem que, à primeira vista, pode parecer contra-intuitiva. Afinal, a maioria das empresas luta incansavelmente para aumentar a sua quota de mercado. Então, porque escolheriam deixá-la cair?
A resposta encontra-se no objetivo desta estratégia: maximizar o cash-flow e as receitas de curto prazo. Para tal, a empresa reduz os seus investimentos em áreas específicas, como marketing, desenvolvimento de produto ou infraestruturas. Ao fazer isto, a empresa pode diminuir os seus custos operacionais e aumentar o seu retorno no curto prazo.
Esta estratégia é geralmente adotada quando a gestão tem pouca confiança na viabilidade a longo prazo do negócio ou de uma linha de produtos específica. Em vez de continuar a investir em algo que não proporcionará um retorno adequado, a empresa opta por ‘colher’ o máximo de benefícios possíveis antes de eventualmente desinvestir ou descontinuar a operação. Em inglês chama-se a esta estratégia “Harvest Strategy” ou “Harvesting Exit Strategy“.
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Quando é que a Estratégia de Colheita é Apropriada?
Não há dúvida de que a Estratégia de Colheita é uma abordagem radical, que desafia muitas das ideias convencionais sobre gestão e crescimento empresarial. Portanto, é fundamental entender em que circunstâncias esta estratégia pode ser apropriada.
Em geral, a Estratégia de Colheita é mais adequada em situações em que a empresa tem pouca confiança na viabilidade a longo prazo do negócio ou de uma linha de produtos. Isso pode acontecer por várias razões. Pode ser que o mercado esteja em declínio ou saturado, tornando cada vez mais difícil para a empresa manter ou aumentar a sua quota de mercado. Alternativamente, a empresa pode ter decidido mudar a sua estratégia geral, concentrando-se em áreas diferentes que prometem maior rentabilidade no futuro.
A estratégia de colheita é também apropriada quando a empresa precisa de gerar rapidamente dinheiro. Isto pode ser devido a desafios financeiros ou a uma necessidade de investir em outras oportunidades mais promissoras. Através da redução de investimentos em certas áreas, a empresa pode rapidamente diminuir os seus custos e aumentar o seu cash flow.
No entanto, é importante notar que a Estratégia de Colheita é uma abordagem de curto prazo, que pode ter consequências negativas a longo prazo. Se usada imprudentemente, pode danificar a reputação da empresa, desmoralizar os funcionários e criar problemas para clientes e parceiros comerciais. Portanto, é crucial que esta estratégia seja implementada de forma cuidadosa e estratégica, com um plano claro para o que virá a seguir.
Exemplos Reais desta Estratégia
Kodak
A Kodak é um exemplo notável de uma empresa que implementou a Estratégia de Colheita, embora com um resultado final menos do que ideal. Reconhecendo a inevitável ascensão da fotografia digital, a Kodak começou a reduzir o investimento no seu negócio de filmes fotográficos. Este foi um exemplo de uma estratégia de colheita orientada para o declínio do mercado.
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Indústria do Tabaco
Outro exemplo vem da indústria do tabaco. À medida que as leis e regulamentações se tornam mais restritivas e a perceção pública sobre o tabagismo muda, algumas empresas de tabaco começaram a implementar a estratégia de colheita. Reduziram os investimentos em marketing e pesquisa e desenvolvimento, concentrando-se em maximizar o cash-flow e as receitas a curto prazo.
IBM
O caso da IBM também é interessante. No início dos anos 90, a IBM estava a enfrentar desafios significativos, com a diminuição das vendas de mainframes e o aumento da concorrência no mercado de PCs. Em resposta, a empresa implementou uma estratégia de colheita no seu negócio de mainframes, reduzindo o investimento e focando-se em maximizar as receitas a curto prazo. Esta decisão permitiu à IBM libertar recursos que puderam ser reinvestidos em áreas mais promissoras, como serviços de consultoria e tecnologias emergentes.
Estes exemplos mostram que a Estratégia de Colheita, embora arriscada, pode ser uma ferramenta valiosa para as empresas em determinadas circunstâncias. No entanto, é crucial que seja implementada de forma estratégica e cuidadosa, com um plano claro para o futuro.
Alternativas à Estratégia de Colheita
Ao considerar a Estratégia de Colheita como uma possível via a seguir, é essencial não esquecer que esta é apenas uma das muitas estratégias disponíveis. Em muitos casos, alternativas podem ser mais adequadas, particularmente se a organização tiver a capacidade e o desejo de investir em crescimento a longo prazo. Aqui estão algumas dessas alternativas.
Estratégia de Manutenção ou de Estabilidade
Esta estratégia envolve manter o status quo em vez de perseguir oportunidades agressivas de crescimento ou de implementar uma estratégia de colheita. É particularmente útil para empresas que operam em mercados estáveis, onde a procura é consistente e previsível. A estratégia de manutenção permite às empresas se focarem na melhoria contínua dos seus produtos ou serviços existentes, ao invés de investirem significativamente em novas ofertas ou mercados.
Estratégia de Crescimento
Ao contrário da Estratégia de Colheita, uma estratégia de crescimento foca-se no aumento da quota de mercado, dos lucros ou de ambos. As empresas que implementam esta estratégia investem forte em marketing, desenvolvimento do produto e, por vezes, em aquisições. Existem vários tipos de estratégias de crescimento, incluindo penetração no mercado, desenvolvimento de mercado, desenvolvimento de produtos e diversificação.
Estratégia de Retirada ou de Desinvestimento
Numa estratégia de retirada, uma empresa decide sair de um mercado ou interromper um produto. Embora semelhante à Estratégia de Colheita, a estratégia de retirada é geralmente mais drástica e definitiva. A empresa para completamente de investir em determinada área e, frequentemente, vende os ativos relacionados.
Estratégia de Transformação ou de Pivô
Esta estratégia é particularmente relevante para empresas que operam em indústrias em rápida mudança. Consiste em mudar fundamentalmente o modelo de negócio da empresa, muitas vezes através da introdução de novos produtos ou serviços, ou mesmo pela entrada em novos mercados ou descubrir um nicho de mercado apropriado. A ideia é aproveitar as novas oportunidades, em vez de se concentrar em maximizar as receitas de produtos ou mercados em declínio.
Estratégia de Consolidação
Nesta estratégia, as empresas procuram obter uma quota de mercado maior através da fusão ou aquisição de outras empresas. Esta pode ser uma alternativa eficaz à estratégia de colheita, especialmente em mercados onde a competição é intensa e a consolidação pode levar a economias de escala.
Cada estratégia apresenta seus próprios prós e contras. Os gestores devem basear a decisão de qual estratégia implementar numa análise cuidadosa do mercado, da posição competitiva da empresa e dos seus recursos e capacidades. Embora a Estratégia de Colheita possa ser apropriada em certas situações, é apenas uma das várias ferramentas que os gestores têm à sua disposição.
Conclusão
Navegar no volátil oceano dos negócios requer uma bússola estratégica clara. As estratégias empresariais, seja a de colheita ou qualquer outra, funcionam como um farol, guiando as empresas desde as tempestades competitivas até às águas calmas do mercado. O importante é reconhecer que cada estratégia tem o seu lugar e tempo, e que uma decisão estratégica deve sempre ser informada e deliberada.
A Estratégia de Colheita, em particular, é uma abordagem radical que, apesar de contra-intuitiva, pode ser a melhor rota a seguir em determinadas circunstâncias. Quando um mercado está em declínio, ou quando um produto deixa de ser viável a longo prazo, fazer a escolha consciente de permitir que a quota de mercado desça e maximizar as receitas de curto prazo pode ser uma decisão estratégica inteligente. No entanto, é uma estratégia que deve ser implementada com cuidado, considerando as potenciais repercussões a longo prazo.
Alternativamente, a empresa pode considerar estratégias de manutenção, crescimento, retirada, transformação ou consolidação mais adequadas, dependendo, acima de tudo, do seu contexto e das condições do mercado. O importante é alinhar a estratégia escolhida com os objetivos da empresa e adaptá-la se as circunstâncias mudarem.
Em suma, neste complexo xadrez de negócios, os gestores devem fazer escolhas estratégicas, cientes de que cada movimento tem o potencial de mudar o jogo. Quer optem pela Estratégia de Colheita ou por uma alternativa, o segredo está em compreender o tabuleiro de jogo, antecipar as jogadas dos adversários e, acima de tudo, jogar com inteligência e coragem. No fim das contas, a estratégia bem-sucedida é aquela que permite à empresa não apenas sobreviver, mas prosperar num ambiente de constante mudança e incerteza.