Apesar do aumento exponencial das condições de vida de todos, o ser humano continua insatisfeito. O bem-estar económico não induz, pelo menos de forma permanente, a felicidade.
Infelizmente, o crescimento económico não consegue gerar contentamento ou felicidade duradouros. Se fosse esse o caso, o aumento do PIB mundial real per capita para o décuplo durante os últimos dois séculos teria proporcionado um aumento eufórico do contentamento humano. As provas sugerem que a subida dos rendimentos gera felicidade, mas apenas até certo ponto e por um determinado período de tempo. Depois de satisfeitas as necessidades básicas, a felicidade é um estado relativo que, a longo prazo acaba por divergir significativamente do crescimento económico.
Depois das necessidades de subsistência, a felicidade é determinada pela forma como encaramos as nossas vidas e o que conseguimos alcançar em comparação com os nossos iguais. À medida que a prosperidade cresce, ou talvez mesmo como consequência dessa expansão, muitas pessoas receiam que a concorrência e a mudança ameacem a sua sensação de posição social, que é muito importante para a autoestima. A felicidade depende muito mais da forma como os rendimentos das pessoas são comparados com os obtidos pelos seus iguais, ou mesmo com os das suas figuras-modelo, do que dos seus resultados em qualquer sentido material absoluto.
Quando, há uns tempos, os estudantes formados por Harvard eram inquiridos sobre se seriam mais felizes com 50 000 dólares/ano se os seus iguais ganhassem metade desse valor, ou 100 000 dólares se os seus iguais atingissem o dobro desse valor, a maioria escolhia os salários mais baixos. Quando vi a história, ri-me e comecei por ignorá-la. Mas ela acabou por tocar num ponto sensível e despertar uma memória, há muito adormecida, de um estudo fascinante de 1947, realizado por Dorothy Brady e Rose Friedman.
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Estudo de Brady e Friedman
Brady e Friedman apresentaram dados que demonstravam que a percentagem dos rendimentos que uma família americana gasta em bens de consumo e serviços era em grande parte determinada não pelo nível de rendimentos da família, mas pelo seu nível em relação ao rendimento médio familiar do país. Deste modo, o estudo delas sugere que seria de esperar que uma família com o rendimento médio nacional de 2000 gastasse a mesma proporção dos seus rendimentos que uma família com o rendimento médio familiar de 1900, apesar de, em termos de correção inflacionária, esse rendimento de 1900 ser apenas uma pequena fração do de 2000. Reproduzi e atualizei os cálculos delas e cheguei à mesma conclusão. O comportamento dos consumidores não mudou muito em 125 anos.
Desde 1888, têm sido publicados periodicamente pelo Ministério do Trabalho e seus antecessores estudos por amostragem dos rendimentos e despesas dos americanos. Recolhi dados de sete estudos, desde 1888 até 2004. Os dados não analisados dos estudos pareciam não evidenciar qualquer padrão consistente até eu comparar o rácio de cada escalão de rendimentos das despesas proporcionalmente aos rendimentos com o rendimento médio familiar de cada ano em particular. Depois, tal como Brady e Friedman, para a totalidade dos sete estudos, o rácio das despesas proporcionalmente aos rendimentos desses agregados familiares com um terço do rendimento médio nacional concentrou-se em torno de 1,3 (em que as despesas excedem os rendimentos em 30 por cento). O rácio despesas/rendimentos desce então para cerca de 0,8 com o dobro do nível médio de rendimentos.
Os dados deixam claro que o valor que as pessoas gastam ou poupam é determinado não pelo nível do seu poder de compra real, mas pela sua ordem hierárquica na escala de rendimentos, ou seja, pelos seus rendimentos relativamente aos dos outros.
Em alternativa, podemos chegar à mesma conclusão observando que não se verifica uma tendência nítida a longo prazo na taxa de poupança das famílias. Todavia, todos os estudos demonstram que a taxa de poupança é superior nos agregados familiares com maiores rendimentos do que naqueles que têm rendimentos inferiores.
Para que ambas as afirmações sejam verdadeiras, (e se a distribuição do rendimento não se afastar do seu contexto histórico), as famílias com qualquer nível de rendimentos em dólares deverão estar a poupar menos à medida que o rendimento agregado aumenta com o tempo. O valor da diminuição nas poupanças estará diretamente relacionado com a taxa de crescimento dos rendimentos médios do agregado familiar.
O mais extraordinário em toda esta constatação é ter-se mantido na última parte do século XIX, altura em que as famílias gastavam muito mais dos seus rendimentos com a alimentação do que sucedia em 2004.
Evidentemente que a alimentação constitui um indicador muito útil do nível de subsistência e não deveria encontrar-se associado à posição que uma família ocupa na ordem hierárquica de rendimentos.
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O contentamento humano é transitório
Nada disto teria surpreendido Thornstein Veblen, o economista americano que na sua obra The Theory of the Leisure Class (Teoria da Classe Ociosa), escrita em 1899, ficou famoso por ter dado ao mundo a expressão «exteriorização de riqueza». Salientou que a aquisição de bens e serviços pelos indivíduos se encontra associada ao que se costumava designar por «não querer ficar atrás dos outros». Se Katie tinha um iPod, Lisa tinha também de ter um. Sempre achei que Veblen levava a sua análise ao extremo, mas não se duvidará que ele identificou um elemento muito importante na forma como as pessoas se comportam. Como mostram os dados, todos nós somos sensíveis, em termos competitivos, ao que os nossos iguais ganham e gastam. Podem ser amigos, mas são também considerados rivais na ordem hierárquica.
Os indivíduos andam manifestamente mais felizes e menos stressados quando os seus rendimentos acompanham o crescimento da economia nacional, e os estudos demonstram que as pessoas ricas são geralmente mais felizes do que as que se situam mais abaixo na escala de rendimentos. Mas, sendo a psicologia humana o que é, a euforia inicial de um nível mais elevado não tarda a passar à medida que os novos-ricos se adaptam melhor à sua posição na vida. O novo nível é rapidamente percecionado como «normal». Qualquer ganho em termos de contentamento humano é transitório.
Felizmente, esta psicologia funciona também ao contrário. Os fortes reveses financeiros provocam grande depressão. Mas, as pessoas que não estão afetadas psicologicamente de outro modo, recuperam com o tempo. Voltam a sorrir.
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