O mundo competitivo de hoje obriga-nos a ser melhores, mais eficientes, mais produtivos, mais competentes. Mas, mesmo que alcancemos os nossos objectivos será que conseguimos ser felizes?
Quando atingimos um objectivo importante nas nossas vidas, daqueles que nos deixam extremamente felizes, duas semanas mais tarde a sensação de felicidade esvai-se. A motivação e o incremento de energia que essa felicidade nos trás esvai-se também.
Presume-se que o nosso nível de felicidade seja ditado pelo mundo exterior. Presume-se que se as variáveis externas ao individuo forem mais favoráveis (ter um salário mais alto, fazer férias num paraíso exótico, poder comprar o automóvel de sonho, ou apenas ser muito rico), então o individuo será mais feliz.
Na realidade, diversos estudos apontam que os factores externos ao individuo são apenas responsáveis por 10% do índice de felicidade de longo prazo desse individuo. Os restantes 90% são ditados pela forma como o nosso cérebro processa o mundo exterior. Se conseguirmos alterar os parâmetros subjacentes à forma como o nosso cérebro processa o mundo exterior então poderemos, não só criar o bem-estar do individuo e fazê-lo mais feliz, mas melhorar a sua performance profissional e pessoal de forma dramática.
Esta é a proposta de Shawn Achor, um psicólogo e académico americano que desenvolveu uma teoria interessante sobre a felicidade humana e desempenho profissional. Segundo Achor o senso comum faz com que coloquemos o problema ao contrário. Somos formatados desde crianças a atingir objectivos para termos uma recompensa. A fórmula de sucesso seguida pela nossa sociedade é “se eu trabalhar mais e melhor então serei bem-sucedido, e se for bem-sucedido serei mais feliz”.
MAIS TRABALHO -> MAIS SUCESSO -> MAIS FELICIDADE
Esta fórmula fundamenta o nosso estilo de paternidade, a educação nas nossas escolas e, de uma maneira geral, a forma como nos motivamos no dia-a-dia. O problema é que esta fórmula está errada, e é cientificamente incorrecta. Cada vez que o nosso cérebro atinge o sucesso (se é que o consegue atingir) apenas estamos a alterar a nossa definição de sucesso. Tivemos boa nota no exame, agora temos que obter notas melhores. Atingimos o objectivo de vendas do trimestre, então, no trimestre seguinte, esse objectivo será ainda maior. Se a felicidade está no outro lado do sucesso, o nosso cérebro nunca chega realmente lá, e a felicidade nunca é verdadeiramente alcançada. O que fizemos, globalmente como sociedade, foi empurrar a felicidade para além do horizonte cognitivo. E isto porque pensamos que temos de ser bem-sucedidos primeiro, e depois, sim, seremos mais felizes.
»» Leia também: Como vencer o medo!
A teoria de Achor baseia-se em duas premissas fundamentais:
- Não podemos adiar a felicidade para depois do sucesso;
- Um individuo feliz é mais produtivo, mais competente, atingindo melhor e mais depressa os seus objectivos.
Estudos comprovam que um cérebro positivo tem um desempenho significativamente melhor (média de 31%) do que um cérebro negativo, neutro ou em stress. A inteligência, a criatividade e o nível de energia aumentam num cérebro positivo. Diversos estudos apontam para resultados reveladores: Um vendedor positivo vende mais 37%, um médico positivo é 19% mais preciso no diagnóstico, … Se encontrarmos uma forma de nos tornarmos positivos seremos concerteza mais bem-sucedidos. A dopamina que inunda o nosso sistema quando somos positivos tem dois efeitos importantes. O primeiro, e mais visível, é que nos torna mais felizes. O segundo é accionar todos os centros de aprendizagem do nosso cérebro permitindo-nos adaptar ao mundo de forma diferente.
Shawn Achor compilou diversos métodos que juntos permitirão treinar o cérebro a tornar-se mais positivo de uma forma duradoura:
Criar alterações positivas duradouras
- Três reconhecimentos de felicidade (Emmons & McCullough, 2003)
Anotar diariamente três motivos pelos quais se sintam gratos durante 21 dias. Após esse período, o cérebro retém um padrão de procurar no mundo as coisas positivas primeiro.
- Diário de experiências positivas (Slatcher & Pennebaker, 2006)
Anotar uma experiência positiva que tenhamos tido nas últimas 24 horas. Irá permitir ao nosso cérebro reviver essa experiência, consolidando-a.
- Exercícios (Babywak et Al., 2000)
Os exercícios ensinam o cérebro a perceber a importância do comportamento.
- Meditação (Dweck, 2007)
Ajuda o cérebro a superar o deficit de atenção ou hiperactividade que criamos ao tentar realizar diversas tarefas em simultâneo.
- Actos de bondade aleatórios (Lyubomirsky, 2005)
Todos os dias elogiar ou agradecer a alguém do seu círculo social, mesmo que seja por e-mail ou mensagem escrita.
»» Leia também: O que é uma microempresa?
Ao desenvolver estas actividades estamos a treinar o nosso cérebro, assim como treinamos o nosso corpo, a inverter a fórmula de felicidade/sucesso, chegando mais depressa ao sucesso, mas não tendo que esperar pelo sucesso para ser feliz.
Shaw Achor escreveu o livro “A Vantagem do Cérebro Feliz” onde defende que a felicidade é o que impulsiona o sucesso e não o inverso.