Mito da perpetuidade das empresas

O Mito da Perpetuidade das Empresas

Quem estudou contabilidade, uma das primeiras coisas que aprendeu foi que a «empresa» existe na perpetuidade.

A noção de «perpetuidade» é, por si só, arrogante. Nos tempos atuais acho-a incrivelmente arrogante.

A empresa é perpétua?

A ideia da empresa construída para todo o sempre deriva de uma visão romântica da realidade. A verdade é que as grandes empresas são incapazes de inovar e de serem flexíveis de forma contínua. As empresas serão cada vez mais efémeras. Serão construídas para gerar algo de valor – e quando esse valor tiver sido explorado até à exaustão, desaparecerão.

A perpetuidade das carreiras profissionais

O que se passa nas empresas também se aplica à carreiras individuais. Um grande impacto costuma chegar num breve período de tempo. Os professores suecos Kjell Nordström e Jonas Ridderstrale abordam esse ponto no seu livro Funky Business: «A grandeza é fugaz e, para as corporações, irá tornar-se ainda mais fugaz. O objetivo último de uma organização, de um artista, de um atleta ou de um corretor pode ser a de explodir num frenesim de criação de valor durante um curto espaço de tempo, em vez de existir para sempre.

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Warren Bennis e Patricia Ward Biederman oferecem uma observação incisiva no seu livro Organizing Genius: «os grandes grupos não duram muito». Bennis e Biederman sabem do que estão a falar pois baseiam essa generalização num estudo sobre o melhor dos grandes grupos nomeando-os: Projeto Manhattan, o primeiro lab. Xerox PARC de animação da Disney, entre outros.

Grandes grupos, carreiras, empresas, para onde quer que olhe o modelo de grandeza resume-se a isto… criar um impacto… e depois uma grande saída. Até na natureza se vê isso. As flores mais bonitas, por exemplo as Tulipas, não duram muito tempo. Já os Gerânios duram uma eternidade.

Por vezes é o público que incita o processo. Os dois grandes líderes da Grã-Bretanha do século XX foram Churchill e Thatcher. Os dois foram descartados sem cerimónias quando os cidadãos concluíram que já tinham cumprido as suas funções. Líderes transformadores tendem a acabar por cansar os seus seguidores.

Orson Welles, como Harry Lime em The Third Man, focou o mesmo ponto e colocou-o num grande contexto histórico: «Itália, durante 30 anos sob o poder dos Borgias, teve guerras, terror, derramamento de sangue, e produziu Michael Angelo, Leonardo Da Vinci e a Renascença. Na Suiça tiveram amor fraternal, 500 anos de democracia e paz, e conseguiram produzir o relógio de cuco».

Claro que isto é injusto.

(Ou será que não?)

Construído para Deflacionar

A primeira lista das «maiores e melhores empresas» que as revistas adoram publicar foi a Forbes 100, que apareceu em 1917. Setenta anos depois, num número de aniversário, a Forbes observou a performance subsequente dos líderes do tempo de Rushmore, da economia ímpar da nação americana. Dick Foster, diretor sénior da McKinsey e a sua colega Sarah Kaplan analisaram todos os dados e contextualizaram-nos. O título do seu livro brilhante sobre este tema diz tudo. Creative Destruction: Why Companies That Are Built to Last Underperform the Market.

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Lendo as suas descobertas, recordo-me de Marlon Brando em Apocalypse Now: o horror, o horror. Resultado líquido: Das 100 fabulosas e perpétuas organizações de 1917, 70 anos mais tarde 61 delas estavam… mortas. Apenas 39 sobreviveram. Mas dessas 39 sobreviventes, apenas 18 figuravam nas 100 maiores empresas de 1987. E dos sobreviventes que ainda eram «grandes», constatou o estudo que tinham sido ultrapassados pelo mercado em 20%. Apenas 2 empresas, a GE (General Eletric) e a Kodak tinha tido uma performance superior à do mercado. E a Kodak, passados mais alguns anos, também acabou por… falecer.

Outros estudos se seguiram. Por exemplo, uma análise ao índice americano S&P500, que foi criado em 1957, apurou-se que apenas 40 anos mais tarde, das 500 empresas inicias, apenas 74 ainda estavam vivas. E as sobreviventes tiveram uma performance pior que a do mercado.

É apenas um facto: Os sobreviventes são muito poucos e têm piores resultados.

A minha conclusão: Mesmo antes da nossa era insana, os tipos grandes tinham a tendência inevitável de ficar preguiçosos, muito preguiçosos.

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